“QUEIMEM OS NAVIOS!”
Significa abrir mão de experiências passadas, sejam boas ou ruins para adquirir as novas experiências que o Senhor quer nos dar, ou seja, trancar as portas pelas quais você já passou e tomar a decisão de jogar a chave fora. (autor desconhecido, 2018). Fonte da citação
Particularmente, sempre gostei dessa expressão. Na verdade, sempre achei o ápice da coragem simplesmente olhar para trás e destruir a única coisa que poderia garantir um retorno ao seguro. Sim, “queimar o barco” é a expressão capaz de definir alguém comprometido com uma meta, alguém diante de uma jornada nova e apavorante e ainda assim disposto a tudo para fazer dar certo.
Mas, embora o conceito me fascine, nunca me julguei capaz de queimar o barco antes. Ou queimar as pontes… Ou, simplesmente, me desprender do concreto.
Começo com essa expressão e seu conceito, pois necessito me abrir a respeito daquilo que foi um divisor de água em minha vida.
Carreguei comigo sonhos e anseios dos quais simplesmente nunca pude me desfazer. Com a maturidade, as escolhas obrigaram esses sonhos e anseios a se espremerem dentro das responsabilidades. Foi tudo subjugado e relegado aos locais mais precários da minha atenção. E, durante muito tempo, o status quo da minha real paixão permaneceu dessa forma.
Diante de tormentos internos, externos e substanciais, e diante de uma situação insustentável, me lembrei desse conceito tão admirado por mim e me vi obrigada a fazer uma escolha: queimar o barco, a ponte e tudo o que me deixava na zona de conforto; ou queimar meus sonhos.
Preciso ressaltar, antes de prosseguir, que, em outra época, estive em situação parecida, e que cometi o erro de incendiar a única parte em mim que nunca me abandonou. Eu incendiei meus sonhos uma vez. E, a grande questão sobre incendiar, é que uma vez riscado o fósforo e ateado o fogo, não se pode parar sem que um grande dano seja causado. Na época em que o fiz, percebi tarde demais que a atitude que tomei, por um bem maior, havia destruído uma boa parte de mim. E apenas eu senti. E apenas eu fui obrigada a conviver com essa parte queimada, em cinzas.
Com cicatrizes, com lembranças dolorosas e com uma parte de mim já convencida de que ainda poderia resgatar parte do que fora perdido, eu segui juntando tudo o que podia para me refazer. E, julgando-me pronta para continuar, estabeleci um acordo comigo mesma e decretei que nunca mais faria tal coisa, e que, se houvesse oportunidade, eu queimaria o barco.
Isso nos leva para o motivo desde texto. Porque, mais uma vez diante dessa escolha, eu incendiei o barco. E eu o fiz com um incinerador, depois de ter encharcado o barco com gasolina. Senti o medo daqueles que vieram antes de mim e que queimaram seus barcos e suas pontes. Queimei o barco e percebi que, o mesmo que aconteceu com os meus sonhos, aconteceu com o barco e tudo o que nele eu achava ser importante. Outra grande questão sobre os incêndios metafóricos… eles nunca afetam apenas um lugar. Só que, desta vez, não era apenas eu quem deveria lidar com os danos, embora isso não me fizesse sentir tão bem quanto parece.
É assustador ouvir sussurros… perceber olhares…
Quando fincamos o pé em algo que julgamos ser o melhor para nós, os outros tomam partido e nos rotulam como egoístas. Como ingratos. Como mimados…
E uma das coisas mais difíceis é nos convencermos de que devemos seguir, mesmo que isso signifique pisar em algum calo. Mesmo que você perca pessoas… mesmo que doa você ver “amigos” indo embora. Há momentos, inclusive, que você perde até a confiança em si mesmo.
E tudo isso porque o caminho de quem decide se impor é obscuro.
Em uma montanha-russa de emoções, percebi que, embora tenha sido árduo e doloroso, ferir meus sonhos outrora custou muito mais caro. E a culpa que senti, por contrariar as expectativas alheias, durou menos quando percebi que nunca foi sobre o barco, ou pontes, ou expectativas.
Sempre foi sobre aquilo que sempre esteve comigo, me pedindo para falar, me implorando para ser deixado livre e me fazer livre.
Se posso hoje escrever isso, e mostrar a você, significa que, antes de olhar para trás e incendiar o barco, eu olhei para mim e vi os sonhos e anseios que nunca me abandonaram. E que todo aquele tempo só queriam uma chance de me fazer feliz.
Então, a todos vocês que estão atracados ao porto, se segurando firmemente a um barco, um navio, um bote… ou a vocês que estão com um pé na ponte e o outro no caminho…
A todos…
Olhe para dentro e veja, realmente veja, o que está aí dentro e se pergunte:
Vale a pena me machucar assim só para não decepcionar alguém?